Amadeu Simoes Picado


Nasceu em Ílhavo na Rua de Camões, em 2 de Julho de 1895, neto paterno de António Simões Picado e Maria de Oliveira e materno de Domingos Ferreira Gordinho e Maria Clemência e, tomado o nome de Amadeu Simões Picado, mas já sem o apelido de "Bravo", que afinal sempre mostrou ser, ficou apto para todo o serviço militar, quando foi às sortes, já que era um rapagão e pescador saudável e a sua incorporação no Exército deu-se em plena Guerra. Naqueles tempos, foi pescador, nas chamadas "Artes de Pesca" de Sesimbra, mas talvez por não ser embarcadiço, isto é, não andar nos navios de pesca do "alto mar" ou mercantes, não foi cumprir o serviço militar na Marinha, mas sim no Exército. Não era um iletrado, pois tendo frequentado a escola primária até quinze dias antes dos exames da 4.ª classe, só não concluiu a escolaridade nessa data, face a um castigo injusto, que um professor, que não era o da sua turma, lhe aplicou. Com a sua rebeldia, ou ele não fosse herdeiro de antepassados com apelido "Bravo", que muitas vezes se sobrepunha ao próprio nome, saiu repentinamente da sala de aula, tendo de atravessar a sala do professor da sua turma que, como Director da Escola, tentava preparar melhor os alunos do tal professor para os exames finais e abandonou o edifício, apesar dos protestos do "seu" professor que veio atrás dele, mas não o conseguiu deter. Por este motivo, já não voltou mais à escola, nem a casa dos seus Pais, pois sabia que a severidade da sua Mãe, contrastando com a bondade do Pai, como contava, se faria sentir no seu corpo e o obrigaria a voltar à escola e humilhar perante todos, coisa que ele não admitia, passando a viver desde aí com uns tios e acabando por não fazer o exame da 4.ª classe. Com aquela idade já o seu voluntarismo e o seu forte sentimento de não se submeter nem pactuar com injustiças, traçaram o seu caminho. Em lugar de seguir as pisadas do seu irmão mais velho que, completando a instrução, se tinha tornado Oficial Náutico, ele que era dos melhores alunos da turma, iniciou-se como auxiliar nas "Companhas de Pesca" da Costa Nova, prosseguindo como pescador, para depois seguir com outros familiares para as tais "Artes" de Sesimbra, até ser incorporado na Arma de Engenharia, na especialidade, como ele dizia com muito orgulho, de "Pontoneiro", construtor de pontes militares, feitas naqueles tempos com barcaças amarradas de braço dado, sobre as quais se colocavam os estrados que serviam de passadiços. Durante a 1ª Guerra Mundial, embarcou para França como cabo e não sofreu propriamente as agruras da frente das batalhas, já que ficou como quarteleiro junto do Comando do "Corpo" de Engenharia, logo, sempre na linha da retaguarda, quase sempre aquartelados num daqueles Chateaux, sede duma enorme propriedade agrícola. Depois de regressar da França, casou-se com Maria de Jesus Bizarro, em 29-05-1919 e, após o nascimento da primeira filha, emigrou legalmente para os USA, onde mourejou muito, quase sempre como pescador, com excepção dos tempos da "Depressão", em que teve de apanhar todos os diversos tipos de trabalho em terra que conseguia.
(Texto adaptado do Eng.º Jorge Simões Picado no Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné)