Joao Marques Ramalheira

Nasceu na Rua Direita em 22-10-1898, baptizado pelo Prior Manuel Branco de Lemos, sendo padrinhos João Pereira Ramalheira o Pisco e Maria Rosa de Jesus Ramalheira, filho de Guilherme Marques e Josefa de Jesus. Sendo practicamente mais conhecido por Guilhermino Ramalheira, este nome adveio do seguinte: ainda em pequeno costumava brincar com seu primo e vizinho João Pereira Ramalheira, pelo que a semelhança dos nomes, provocava alguma confusão. Assim, familiares de ambos passam a chamar-lhe Guilhermino (seu pai era Guilherme) e ao primo, Vitorino (sua mãe era Vitorina) e a partir daqui a serem conhecidos sempre por estes nomes. Do casamento em 18 de Agosto de 1934 com Acácia da Maia Nunes Pinguelo, nasceram os filhos, Guilhermino Ramalheira e João Aníbal Ramalheira. O Prof. José Nunes da Fonseca, foi o seu primeiro professor. Logo de miúdo pensou ser jornalista e esta vocação nasceu da formação de um jornalzinho manuscrito na casa do Ilhavense Henrique António de Abreu e que se chamava Águia, feito em parceria com João Campos, Francisco António de Abreu, Manuel Trindade Salgueiro e outros. Por problemas surgidos com o proprietário da casa, o jornal acaba e vão pedir ajuda ao prof. José Nunes da Fonseca e ao Dr. António Frederico de Moraes Cerveira, que, através de uma subscrição, conseguem então passar a publicar um jornal impresso na tipografia de Os Sucessos do sr. Vilar e com o nome A Escola Primária, saindo o 1º número a 5 de Maio de 1910. Com algumas dificuldades vai para o Liceu de Aveiro até ao 3º ano, mas seu pai, sapateiro de profissão e um fervoroso adepto da Música Velha (tocava rabecão), conseguiu-lhe arranjar um emprego no Porto, como caixeiro duma casa que lhe fornecia o cabedal para a sapataria. De facto, o patrão trocou-lhe as voltas e passa a ser moço de recados, calcorreando as ruas Portistas. No entanto vêm avisar a sua mãe que o cabelo que ele tinha levado ainda se mantinha na mesma! Claro está que a estadia no Porto termina aqui, indo sua mãe buscá-lo para regressar à sua terra natal. Aprendeu violino com os Ilhavenses Carlos Barreto Bilelo, José Carolla e João Carolla. Este foi o seu último professor de solfejo, mas como ele queria a música entoada, desistiu, pois como era ainda garotinho, engasguitava, não chegando às notas mais altas. Passou para Aveiro tendo como professor de solfejo João Aleluia. Depois, seu pai coloca-o na distinta professora aveirense de violino, Amélia Marques Pinto. Teve aulas durante quatro meses: ia duas vezes por semana, saindo de casa às 7 horas da manhã (as aulas começavam às 7.30 H) e às 9 H já estava no Magistério Primário. Os outros instrumentos (violão, rabecão e guitarra) aprendeu à sua custa. Frequentou o Liceu de Aveiro e a Escola do Magistério Primário, tendo-se diplomado a 27 de Julho de 1916 com a classificação de 18 valores. Neste mesmo ano foi nomeado professor em Aguim, concelho de Anadia, onde exerceu até 31 de Maio de 1917, sendo no ano lectivo seguinte nomeado interinamente para a Escola de Vale de Ílhavo, passando a efectivo desta mesma Escola, em 23 de Novembro, onde permaneceu até 30 de Setembro de 1930. A 1 de Outubro desse ano passou para a Escola nº 2 em Cimo de Vila e em 1940 é colocado na Escola nº 1 da Ferreira Gordo, onde esteve até 26 de Novembro de 1962, aposentando-se após 46 anos de serviço. Em 29 de Maio de 1959, foi condecorado pelo Presidente da República, com a comenda da Ordem de Instrução Pública Cooperou na feitura da letra e música das revistas O Francês das Notas, Com Papas e Bolos, P'ra Inglês Vêr e Galeota. Como músico, tocando violino, fez parte da orquestra da Nossa Escola, Caldeirada, Cantar do Galo e Molho de Escabeche. Foi por pouco tempo regente da Banda dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo e em Fevereiro de 1936 assumiu a regência da Filarmónica Ilhavense até Dezembro de 1949. Fez parte do Corpo Directivo do Hospital, dos Amigos do Museu, Filarmónica Ilhavense, Património dos Pobres, Bombeiros Voluntários de Ílhavo e do Illiabum Clube. Como jornalista colaborou no Brado, Ilhavense e Jornal de Ílhavo e foi Director do jornal Beira Mar. Era correspondente, em Ílhavo, de quase todos os jornais do Porto e Lisboa e do Diário de Coimbra, tendo ganho alguns concursos com trabalhos publicados. Fez duas conferências sobre o Arrais Ançã e a Canção do Mar, ambas publicadas em livro e cuja receita reverteu para a ajuda da construção do novo Museu. Compôs várias músicas para revistas, Marchas Sanjoaninas, Semana Santa, espectáculos e outras, destacando-se a Canção de Ílhavo, que ele próprio definiu como sendo a «a sua própria vida», durante o espectáculo Vip-Vip, realizado no Centro Paroquial de Ílhavo, em Novembro de 1969. João Marques Ramalheira vem a falecer na casa que tanto amou - Illiabum Clube - na noite de 9 de Maio de 1970.