Manuel da Silva Peixe

Manuel da Silva Peixe nasceu em Ílhavo no dia 12 de Abril de 1902. Com apenas cinco anos de idade ficou órfão de pai e foi viver com os seus padrinhos que eram agricultores. Com seis anos já ajudava nos trabalhos da casa dando comer às galinhas e levando os bois para o pasto. No campo os bois puxavam a charrua e era o pequeno Manuel que os guiava. Com sete anos entrou para a escola e dividia o tempo, agora mais ocupado, entre os estudos e a lavoura. Sobrava pouco para as brincadeiras de menino que ele era. Feito o exame da Instrução Primária não continuou os estudos devido aos parcos recursos financeiros, mas a sua sede de aprender era muita e continuou a ler sempre que podia. Foi um autodidata com uma cultura acima da média para a época. Andou em navios da Marinha Mercante e alguns anos depois passou para navios de pesca. Aos doze anos embarcou pela primeira vez como moço quando a sua idade era mais para estudar e brincar do que trabalhar. Casou e este acto fez com ele mais trabalhasse porque a partir de agora era ele o responsável pela sua família. Era um observador curioso e interessado. O mar, o céu, as tempestades, as trovoadas no mar, as terras onde aportava e principalmente as pessoas. Tentava compreendê-las, saber o que faziam e principalmente assimilar a sua cultura. Os seus escritos reflectem toda esta observação e vivências. Um dia resolveu enviar alguns dos seus versos para os jornais “A Cancão do Sul” e “Ecos de Portugal” foram tão bem aceites que lhe pediram mais e assim passou a colaborar nesses jornais. Não se ficou por aqui, dos Estados Unidos da América vieram pedidos para colaborar nos jornais Portugueses: “A Voz de Portugal” e Jornal Português”. Obviamente o jornal da sua terra não ficou esquecido e “O Ilhavense” publicou regularmente os seus versos. Silva Peixe escreveu muito e foi dos Ilhavenses, da sua época, que mais cartas escreveu. Trocou correspondência com figuras da nossa Terra como: Guilhermino Ramalheira, Fernando Magano, Senos da Fonseca, António Maria Lopes, Quintino Teles, Manuel Trindade Salgueiro, Palmiro Peixe entre muitos outros. Registou correspondência com Altas figuras da Nação: Henrique Tenreiro, Frederico de Brito, Ramiro Valadão, Américo Tomaz que era Presidente da República, Oliveira Salazar que era Presidente do Conselho de Ministros entre muitos outros. Silva Peixe publicou 20 livros, todos em edição de autor: em 1950 dá à estampa o seu primeiro livro “Musa ao leme” seguindo-se “Folhas Velhas” 1962, “Acordes da Lira” 1964, “Jardim do Parnaso” 1965 com capa de Palmiro Peixe, “Terra Minha” 1966, “O Lírio do Gólgota” e “Águias no Campo” 1967, “Coisas da Vida” 1968 que é o único livro de prosa, são contos que pouca gente conhece, “Gorjeios” 1969, “Veneza Lusitana” 1971, “Aveiro Princesa do Vouga” 1974, “O meu Ílhavo” 1975, “Recordações da Nossa Terra” 1978, “Flores do meu jardim” 1980, “Velhice – Sol-Posto da Vida” 1981 na nota de abertura deste livro Silva Peixe oferece-o à A.C.D. “Os Ílhavos”, “Recordações d’um Velhinho” 1983, este livro também tem capa de Palmiro Peixe, Roseiral em flor” 1984 capa de J. Teles, “A voa da poesia” 1985, “Recordações da nossa Lisboa” 1986 este livro é dedicado ao então Presidente da Câmara de Lisboa, “Os dois Municípios (concelhos amigos) 1987 sendo este o seu último livro publicado. Em 1965 António Pereira Gomes escreveu uma pequena biografia romanceada e um conto “A Galera Feiticeira” dedicado a Silva Peixe. Estes dois textos foram publicados no livro “A Vida de um Poeta”. Silva Peixe é um dos autores representado na “Antologia de Poetas Populares” Vol.1 de Fernando Cardoso referência como Silva Peixe Poeta Marinheiro. Está também representado na “Antologia de Poetas Ilhavenses” de Jorge Neves. No seu livro “Figuras Ilhavenses – Poetas e Casos da Terra dos Ílhavos” de 1998 Fernando Parracho publica uma fotografia de Silva Peixe juntamente com alguns dados biográficos. O mesmo Fernando Parracho publica “Ílhavo” versos de Silva Peixe no livro “Esta a Nossa Terra Esta a Nossa Gente” de 1992. Manuel da Silva Peixe foi convidado e participou em alguns programas da RTP e em sessões na Universidade de Aveiro. Passava longas temporadas na Costa-Nova, tinha uma pequena mercearia. Exposta nesta sua loja existia uma maquete, feita por ele, toda de madeira que representava uma romaria. Tinha uma igreja num dos topos mais elevado e depois caminhos e figuras. A frontaria da Capela do nosso Cemitério tem um soneto “A Voz do Silêncio” gravado em mármore da autoria de Silva Peixe. Na sede da A. C. D. “Os Ílhavos” existe igualmente gravado em mármore um soneto “Os Ílhavos” da sua autoria. Esta Associação Ilhavense atribuiu o nome de Silva Peixe à sua sala da sua biblioteca. Muito perto do fim da sua vida, Silva Peixe, doou ao nosso Museu, todas as medalhas e condecorações que lhe foram atribuídas. À A.C.D “Os Ílhavos”, ofereceu todos os seus livros.
(Texto de João Balseiro)