David Manuel Mendes Calao

David Manuel Mendes Calão, filho, de Francisco dos Santos Calão e de Maria Oliveira Mendes, nasceu em Ílhavo, em 27 de Julho de 1926, na rua Dr. Samuel Maia, no Arnal, onde foi criado. Do casamento com Maria Luísa Pinto Nunes Guerra, nasceram cinco filhos, duas raparigas e três rapazes. Fez a sua primeira viagem como praticante de piloto, em 1946, sob o comando do seu pai, no arrastão de pesca lateral, Santa Joana. David Calão passou pelo arrastão Santa Mafalda, entre 1948 e 1953, como piloto e, mais tarde, como imediato. E eis que lhe foi proporcionada a mudança de navio, – o São Gonçalinho – do mesmo armador, Egas Salgueiro. Ao todo, entre imediato e capitão serviu-lhe de «habitat aquático» o São Gonçalinho, durante catorze anos, num total de 25 viagens (entre 1953 e 1966). Este ritmo vertiginoso só seria conseguido por um homem trabalhador, dinâmico, sabedor e amante da sua profissão. Nesta mesma década de 60, começaram a surgir os chamados arrastões de popa, e em 1967, que grande desafio foi feito ao «nosso» capitão – o comando do arrastão Santa Isabel. Depois de várias e rentáveis viagens, neste novo navio de arrasto de popa, de 1967 a 1971, o inesperado aconteceu… A 23 de Abril de 1971, prestes a largar para Portugal com um bom carregamento, a perda fatídica na Terra Nova do Santa Isabel provocada por um iceberg, aconteceu. Era seu comandante o distinto oficial náutico David Mendes Calão. Não houve perdas de vidas. Este dramático episódio da perda do «seu navio», sempre presente na mente do Cap. David, aí permaneceu até ao fim dos seus dias. Sói dizer-se que a vida é uma roda que anda e desanda para qualquer um dos lados. E nesta época, o azar bateu à porta de David Calão. A roda resolveu andar para trás. A 29 de Agosto, na sua casa de férias da Costa Nova, desmaiou na banheira, intoxicado por uma fuga de gás do esquentador. Apesar de levado para o hospital com vida, urgentemente, foi reanimado, mas as lesões no cérebro provocadas pela falta de oxigénio, deixaram marcas irreversíveis na visão e no controle da fala. Com o andar dos tempos, foi recuperando, mas nunca mais foi quem era, nem voltou ao ativo. Ainda muito novo, «partiu» a 9 de Outubro de 1983, acabando a sua tormenta, com 57 anos, vítima de um ataque cardíaco. Aquele maldito iceberg gelara-o para sempre.
(Texto de Dr.ª Ana Maria Lopes)