Manuel Xis Simões Chuva

Manuel Xis Simões Chuva, carinhosamente conhecido por Manelzinho Mangono, filho de Oliveira Simões Chuva e de Rosa Xis, nasceu em Ílhavo, por 1928. Era uma figura típica de Ílhavo, conhecida de todos, um homem bom, educado, mas também “um bom serás”, de compreensão lenta e difícil. Fazia uns trabalhos para o antigo Hospital, por onde creio, em troca, até dormia e comia um prato de sopa quente ou um conduto. Quem não se lembra dele? Alto, encorpado, com a sua boina e tamancos, que soavam na calçada, empurrava a geringonça do carro de mão com uns aprestos ou umas madeiras, falando sozinho, numa voz enrouquecida e grossa. Pensava alto. E também tocava os sinos da torre da nossa Igreja Matriz, enquanto eram manuais. Haverá muito mais, mas à laia de exemplo, seguem duas “estórias”:
Sempre que por aqui passava, vindo do hospital, em direcção à rua do Curtido de Baixo, mal se aproximava da casa da minha avó, onde hoje moro, começava a lengalenga: – Olha, a casa do senhor capitão, que ganhou tanto dinheiro no mar e aqui tem a sua senhora, que era professora, muito estimadinha e continuava… pelo Curtido abaixo.
Certo dia, o meu pai, por uns trocos para o bolso, lá lhe pediu se lhe fazia um trabalhito no quintal. O trabalho consistia em misturar uma terra leve, feita de folhas decompostas, com outro tipo de terra mais pesada, com outra origem. Foi uma tarde, muito bem, mas nunca mais apareceu. Uma parente encontrou-o e disse-lhe. – Então, Manelzinho, foste trabalhar para o quintal do Sr. Dr? - Ah Odetezinha, Fui, mas não vou mais, fico com a minha cabeça em água. Nunca entendi o trabalho, quem se lembra de mandar misturar “terra com terra”? Ainda hoje, para mim, “misturar terra com terra” é sinónimo de uma coisa esquisita, difícil, sobretudo incompreensível. Faleceu em 8 de Fevereiro de 2004, com 76 anos.
(Texto de Dr.ª Ana Maria Lopes)