João Fernandes Parracho

O capitão João Fernandes Parracho de alcunha, Victorino, era filho de António Fernandes Parracho e de Rita Maurícia de Jesus, tendo nascido em Ílhavo, a 28 de Março de 1906. Do seu casamento com Joana Ferreira Cachim, nasceram quatro filhos, o João Victorino, a Maria Fernanda, a Maria Isilda e a Alcina Maria. Refere-se Anselmo Vieira, num relato de viagem, ao Capitão: Somente quando se zangava os seus olhos se modificavam: aí escureciam como os dias de trovoada e despediam uma luz, quais faíscas de aço. Mas era raro zangar-se. Todos gostavam dele e o respeitavam, como a uma águia dos lugres bacalhoeiros. Dominava os homens à sua maneira, sem esforço ou prepotência. Seria essa a maneira correcta de comandar um navio. Ouvido também Senos da Fonseca acerca do sogro, refere-se-lhe de uma forma afável: – Por destino da vida, meu sogro, Cap. Vitorino Parracho, fez-me entender melhor desta dupla personalidade coexistindo nestas singulares personagens, quase míticas: – De como um homem do mar, determinado, exigente e rezingão, mandão a bordo, se transformava, saco posto no cais, no mais afável ser que conheci, homem bom, brincalhão, jocoso, onde residia uma permanente boa disposição, de uma bonomia que tocava a todos (…).
Familiar testemunhou-me que foi para o mar, com 9 anos, de moço de convés…
Desde que há registos fiáveis, Vitorino Parracho foi piloto entre 1936 e 37 do lugre Senhora da Saúde da praça de Aveiro. Em 1938, estreou-se no comando do lugre de madeira Vaz, continuando nos anos de 1938 e 39, quando naufragou, de água aberta, nesse ano, a 31 de Agosto, não havendo conhecimento de vítimas. Vitorino Parracho, entre 1942 e 45, soltou as amarras ao comandar o Júlia I da praça da Figueira da Foz.
Foi transferido para o lugre Júlia IV, durante os anos de 1946, 47 e 48. Era chegado o ano de regressar à praça de Aveiro, para daí suspender a âncora, como capitão do lugre-motor Dom Denis, de 1949 a 1960. Em nova «emposta», estreou, de seguida, o navio-motor Rainha Santa, o último navio-motor construído pelos Mónica, neste caso, o Benjamim. Na campanha de 1965, deixou o navio, creio que por doença. Talvez na busca de menor sentido de responsabilidade, dado o avanço da idade e algum desgaste físico, nas campanhas de 1967 a 69, regressou ao bacalhau, mas de imediato, no lugre-motor Luiza Ribau, deixando a vida de mar, definitivamente, após a última campanha, como imediato, a de 70, no navio-motor Vila de Conde. Abandonou, pois, o mar, com o devido mérito pelas ausências sofridas e as tormentas passadas.
(Texto de Dr.ª Ana Maria Lopes)