João Ventura da Cruz (Cap.)

O Cap. João Ventura da Cruz, natural de Ílhavo, nasceu em 1880. Do casamento com Ascensão Ricoca, nasceu uma abundante prole – Maria, Aníbal, Ascensão, João Cândido, Manuel e Nídia Ventura da Cruz. Perante os primeiros dados credíveis, certifiquei-me que fora capitão, nos anos de 1922 e 24, dos lugres Argonauta II, de 1925 e 26, Alcion, e de 1928 e 29, Celestina Duarte, todos da praça de Aveiro. Na campanha de 1930, comandou o lugre Bretanha. Naqueles anos trinta de profunda depressão e crise económica, com lugres amarrados, tudo corria mal e a situação da Empresa de Pesca de Aveiro tornara-se insustentável e os três principais sócios da EPA reuniram-se com os três capitães Manuel dos Santos Labrincha, do lugre com motor Santa Izabel, João Pereira Cajeira do Santa Mafalda e João Ventura da Cruz do Santa Joana a quem contaram a verdade nua e crua – estes comprometeram-se a ir pescar à Groenlândia, de modo a que fosse conseguido o dinheiro suficiente para pôr os navios no mar. E cá está o nosso capitão João Ventura da Cruz envolvido, com sua palavra e temeridade. A eles se juntou o Capitão Aquiles Bilelo, por convite do amigo Cajeira. Quando, mais cedo que o habitual, os quatro lugres, que pescaram nos bancos da Gronelândia, chegaram a Portugal e demandaram os seus portos de armamento, houve grande alvoroço e muito regozijo entre as classes ligadas às actividades piscatórias. Nesse ano de 1931, dos navios que foram à pesca do bacalhau, apenas aqueles quatro conseguiram carregamentos completos, a abarrotar! Mas as fainas marítimas de João da Cruz não ficaram por aqui. No ano de 1932, continuou a comandar o lugre Santa Joana, e, nos anos seguintes de 33 a 35, partiu para o comando do lugre Santa Mafalda da mesma empresa. Entretanto, na safra de 1936, com duas viagens, João Ventura da Cruz estreou, no comando, o primeiro arrastão lateral português mandado construir pela EPA, na Dinamarca, em 1935, adaptado às necessidades dos mares frios do bacalhau, a que deu o nome de Santa Joana. De novo, se transferiu para a pesca à linha, comandando o lugre Santa Izabel, da EPA, de 1938 até 42. O nosso capitão ainda exerceu o cargo de capitão de terra na seca de Palhais, por mais uns três a quatro anos aposentando-se, então. Experimentado, arrojado e prático, chefe de família exemplar, era venerado e respeitado por todos que com ele trataram.
(Texto de Dr.ª Ana Maria Lopes)