Cândido de Oliveira Rocha

Ficou sem pai muito cedo, aos 15 anos, começou a trabalhar como barbeiro aos 11 anos e também no café Cândido na Rua Arcebispo Pereira Bilhano. No rés-do-chão do antigo Museu na Rua Serpa Pinto, (anos 20/30), chegou a funcionar um café/clube com o nome de Recreio Artístico/e Recreio Ilhavense, alugado pelo pai do Sr.º Cândido Rocha. Tinha uma orquestra privativa que animava os bailes, sendo trespassado em Maio de 1931, para os Bombeiros de Ílhavo. Mais tarde é Henrique Rato, baterista do Liberdade Jazz, que fica com o estabelecimento. Esta casa de recreio tinha um regulamento próprio e os utentes só o poderiam frequentar, mediante o pagamento de uma cota. Naquele tempo os principais fregueses do Café Cândido eram os marinheiros. Nesse tempo de crise, filhos de Oficiais e de Americanos, eram os primeiros, muito cedo, a irem ao café pedir um cigarrinho gratuito! O seu pai, homem de mãos abertas, tinha uma onça de tabaco só para ele e uma onça para a rapaziada que não tinha 1 tostão para comprar um cigarro. Nesse tempo poucos compravam um maço de tabaco! Com a falta de dinheiro, a maioria contentava-se com apenas 1 cigarro!! Era no café e na barbearia onde se aprendia a tocar viola e bandolim, com ajuda do pai do Sr.º Cândido, que tocava muito bem bandolim. Mais tarde, o filho, também com o mesmo nome, chegou a comprar partituras de tangos no Porto a 10 tostões cada, que depois eram tocadas pelo violino do Sr.º João Vidal, cliente assíduo do Café. Nesse tempo as barbearias estavam abertas ao sábado, até à meia-noite! Alguns clientes, em especial os que trabalhavam na Fábrica da Vista Alegre, jogavam dominó até aquela hora e `pela meia-noite é que pediam para cortar o cabelo ou fazer a barba! Teve como funcionário Teodoro dos Santos Redondo, homem muito zeloso, cumpridor e que impunha o respeito, admitindo ter sido o seu braço direito. Era um exímio criador de canários, cujas gaiolas, mantinha no pátio do referido café, alimentando-os à base de gema de ovo cozido. O Café tinha duas bebidas como especialidade e que se vendiam muito bem: o branquinho com areia (vinho branco com açúcar) e a ginja Espinheira. Esta era encomendada aos 100 litros, de Lisboa, em barris, já que nessa altura era o único Café em Ílhavo, que a vendia. Muitos fregueses pediam um “cheirinho” de aguardente, a acompanhar a ginja! Cada café era vendido a 5 tostões e a 3 tostões o bagacinho! No início apenas se vendiam bebidas e só mais tarde surgiu o café, que era feito sem máquina, o saboroso café de saco. Como entretenimento, havia o jogo das cartas e dominó, matraquilhos, ping-pong, bem como o bilhar livre, que chegou a estar no 1º andar da casa. Mais tarde é que surgiu o chamado bilhar Americano (Snooker). Com receio de perder clientela, o Café nunca fechava, trabalhando-se aos fim de semana, bem como nas datas festivas (Natal, Passagem de Ano, Páscoa, etc). Esta situação mudou, quando seu filho João, tomou conta do negócio. Casou-se muito cedo aos 20 anos com Maria Felicidade Chuvas Gordinho, tendo os filhos João Cândido Rocha e Maria Cândida.
(Texto retirado duma entrevista a Cândido Rocha, em 19-02-2008 na Rádio Terra Nova, programa Flor de Liz, com João Aníbal Ramalheira e Nelson Teles)