Manuel Abade (Manuel Ceguinho)

Nasceu na Rua do Pedaço às 5 horas da tarde e foi baptizado na Igreja Matriz pelo Prior Manuel Branco de Lemos em 31-08-1902, filho de António Nunes Abade, pescador e Joana de Jesus Caetana, governanta de casa, neto paterno de Tomé Nunes Abade e Maria de Jesus Pinta, materno de Manuel António Bio e Josefa Maria de Jesus, sendo padrinhos Manuel Panela, marítimo e Maria Brites, criada. Os pais haviam casado em 16-08-1893, ambos com 26 anos de idade. Figura típica da nossa terra, sempre com o seu boné, era um homem pacato, cumprimentando toda a gente, à espera de receber uma esmola para arregimentar um copito! Transcrevemos do Jornal Beira Mar, umas notas sobre o Manuel Ceguinho, em 31-07-1926. “Todos os conhecem. O rapazio inquieto brinca com ele, como quem se diverte como uma criança engraçada. Ele está em toda a parte onde houver movimento, festa, actividade. Vagueia perdido por essas ruas, quase sempre sozinho, muitas vezes resmungando um fraseado insípido, que ninguém entende. É o único guarda nocturno de Ílhavo, um guarda nocturno ideal, que não recebe salário. Eh Maneu – gritam os rapazes, quando o vêem ao longe, isolado, repuxando, sofregamente, um cigarro tísico, cigarro de tantos cigarros encontrados pelo chão, inveterado do hálito de tantas bocas. E o Manuel Ceguinho lá vai, falando pouco, seguindo o seu rumo, que é o rumo de todos aqueles que não sabem donde vêem, nem para onde vão. E um dia teve um grande desejo. Quando as lâmpadas eléctricas apareciam partidas, depois das noites invernosas, quis descobrir os autores da façanha. Talvez nem soubesse para quê, ou porquê, mas quis. Perdeu noites sentado por esses passeios, à chuva e ao frio, para matar aquela bizarra curiosidade do seu espírito. Coitado! Manuel Abade faleceu no Lar de São José.